terça-feira, 13 de março de 2018

Aracaju: as questões políticas que motivaram a mudança da capital

Foto: reprodução

Publicado originalmente no site f5news, em 13/03/2018

Aracaju: as questões políticas que motivaram a mudança da capital
Por Fernanda Araújo

A mudança da capital sergipana, de São Cristóvão para o povoado Santo Antônio, atual Aracaju, plano colocado em prática em 1854 pelo então governador da província de Sergipe, Inácio Barbosa, segundo historiadores, têm uma série de outros fatores, para além da necessidade de construir um porto para facilitar o escoamento da produção e desatar os laços de dependência com a Bahia.

Elevar um povoado à categoria de cidade, em uma região de praias, pântanos e bosques, sem saneamento, para recepcionar os três poderes e os seus primeiros habitantes, teve razões econômicas para o desenvolvimento da província, mas, sobretudo, influência de dois grupos políticos que, segundo o historiador Adailton Andrade, tem reflexo na política até hoje.

Era costume na época do império, segundo Andrade, mudar a capital das províncias. Algumas cidades já faziam a mudança e Sergipe “foi na onda”, com a grande influência de João Gomes de Mello, o Barão de Maruim, que fazia parte do grupo político conservador, do Partido Corcunda chamado de “Rapinas”, assim como o eram também os comendadores Sebastião Gaspar de Almeida Boto e Antônio José Travassos.

“Inácio era recém-chegado em Sergipe, deputado da província do Ceará, o pai dele era chefe da guarda imperial da família de Dom Pedro, e ele era advogado, da escola militar, mas não conhecia nada desses movimentos políticos da região. Ele foi muito influenciado pelo Barão de Maruim, que na época era vice-presidente da Província”, explica o pesquisador.

Na análise de alguns historiadores, Sergipe, como as demais províncias do Império, vivia a fase de euforia econômica e de crescimento das cidades. Devido ao declínio do patriarcado rural, os centros urbanos eram procurados para obter contato político e realização de negócios.Tendo o açúcar como mola propulsora da exportação sergipana, a capital localizada no interior tornava difícil o escoamento da produção e seria necessária a mudança para o litoral do estado, com a construção de um canal portuário, atraindo navios.

Porém, segundo Adailton, a nova capital nunca teve condições de suportar uma construção desse porte. “Aracaju nunca teve e não tem até hoje. A ideia pensante foi o Barão de Maruim, o maior responsável pela mudança. Um ano antes da mudança eles conseguem desmembrar São Cristóvão, para criar Itaporanga D’ Ajuda e enfraquecer um pouco a cidade”, relata.

Quando se pensou em mudar a capital, a Barra dos Coqueiros, que possuía o povoado mais desenvolvido, foi a primeira candidata, de acordo com o professor. No entanto, conforme documentos da época, “Inácio Barbosa foi aconselhado pelo próprio imperador que a Barra não teria condições de ser a capital porque a sua água era de péssima qualidade”. Ainda segundo ele, pensaram até em Laranjeiras. Mesmo entre os membros conservadores ou do Partido Liberal, chamados de “Camundongos”, havia divergências a respeito da mudança da capital, que foi aprovada em assembleia provinciana com os barões da região, mesmo sob manifestações contrárias dos são-cristovenses, que queriam impedir a saída das repartições públicas e criticavam as condições de habitação, higiene e saúde da população que deveria ali se estabelecer.

“As pessoas favoráveis à mudança foi o grupo capitaneado pelo Barão de Maruim. O que houve realmente foi essa influência política que tinham os barões e coronéis da região da cana-de-açúcar, atrelada ao Barão de Maruim, grupos políticos voltados à oligarquia da cana e os grupos da área de Estância, de Santa Luzia do Itanhi, voltada à criação do gado”, ressalta.

Segundo o historiador, Sergipe já era autossustentável antes mesmo da mudança da capital, com a exportação da cana-de-açúcar, como também da farinha, do couro de boi utilizado para fabricação de sola de sapatos e da produção de algodão selvagem em Itabaiana.

“Sergipe conseguiu sua independência depois da mudança da capital porque já era altamente sustentável e não dependia da Bahia e mais ninguém. Além de se sustentar, Sergipe mandava produto para estados vizinhos. O projeto modernizador de Inácio Joaquim Barbosa, em torno do qual congregaram-se camondongos e rapinas, é um reflexo da conciliação que estava ocorrendo em nível nacional”, conta Andrade.

Texto e imagem reproduzidos do site: f5news.com.br

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